Rótulos de alimentos e bebidas terão
alerta para alérgicos
Folha de São Paulo
NATÁLIA CANCIAN
DE BRASÍLIA
24/06/2015 14h03
A rotina de quem tem alergia alimentar e vive tentando
entender as informações cifradas nas embalagens dos produtos
ou ligando para o serviço ao consumidor das fabricantes está
prestes a mudar.
Rótulos de alimentos e bebidas terão que informar a presença
dos principais ingredientes que podem causar alergias.
A decisão foi tomada pela Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) nesta quarta-feira (24).
A norma entrará em vigor no país dentro de um ano, período
em que as fabricantes deverão se adequar.
O alerta será feito por meio da mensagem "Alérgicos:
contém...", que deve estar visível, em negrito, logo após a
lista de ingredientes.
Países como Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia já têm
regras determinando que as embalagens tenham avisos quanto à
presença de alérgenos.
PRESSÃO DAS MÃES
A mudança ocorre após pressão de movimentos como o Põe no
Rótulo, que reúne centenas de mães de crianças alérgicas e
conseguiu que a Anvisa realizasse uma consulta pública sobre
o tema.
A psicóloga Tatiana Araújo, 28, de Brasília, acompanhou a
reunião da Anvisa e comemorou a decisão. "Parece até final
de Copa do Mundo para nós. Vai facilitar muito", diz. Seu
filho mais velho, Alexandre, 2, reage a traços –quantidades
baixíssimas– de leite e soja. O mais novo, Samuel, de 10
meses, tem alergia ao leite.
Antes dessa decisão, uma lei determinava que as empresas
informassem apenas a lista de ingredientes e a presença de
glúten. Não havia, porém, um alerta específico para quem
sofre com alergias.
Além disso, os ingredientes costumam ser informados com
letras miúdas e nomes técnicos pouco compreensíveis para o
consumidor.
Sem um aviso no rótulo, Carina Vieira, 31, acostumou-se a
recorrer ao SAC das indústrias para descobrir se ela mesma e
o filho poderiam comer o produto -ambos são alérgicos a
vários ingredientes, como leite, soja, ovo e cereais.
Ainda assim, enfrentam dificuldades. "Às vezes dizem que tem
[certo ingrediente], e uma semana depois, dão resposta
diferente. A impressão que dá é que nem a empresa sabe do
que o produto é feito."
"O leite aparecia como caseína, soro, produtos lácteos. Isso
confunde quem vai consumir", afirma o médico José Carlos
Perini, presidente da Asbai (Associação Brasileira de
Alergia e Imunopatologia).
Isso deve mudar, já que a regra prevê que os produtos sejam
informados com nomes comuns, pelos quais são de fato
conhecidos.
As empresas também terão que informar a possibilidade de
contaminação do produto durante a produção –por causa de
diferentes produtos processados na mesma máquina, por
exemplo. Hoje, a presença não informada de traços de um
ingrediente é tido como um dos principais vilões por quem
sofre alergia.
Para Perini, as novas informações devem diminuir acidentes
por reações alérgicas. Hoje, a estimativa é que de 1,5% a 5%
da população sofra do problema. A alergia alimentar pode
causar simples coceira nos lábios e desconfortos estomacais
até inchaço, fechamento da garganta e choque anafilático.
Representantes das indústrias dizem que o prazo para a regra
entrar em vigor é insuficiente. O ideal, defendem, seria de
três anos, mesmo prazo adotado na Europa.
Ana Maria Giandon, da Abiad (Associação Brasileira das
Indústrias de Alimentos para Fins Especiais), critica a
possibilidade de ter que alterar os rótulos duas vezes –o
Mercosul também estuda a mudança.
"Se tivermos que nos adequar à norma no Brasil e depois no
Mercosul, o custo será muito alto", disse.
Cecília Cury, do Põe no Rótulo, contesta. "Entendo que tem
um custo. Mas o custo das pessoas que estão sendo internadas
por reações alérgicas também precisam ser colocados no
papel.
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